TRADIÇÃO E INVENÇÃO EM
MACUNAÍMA de Mário de Andrade
(Maria
Augusta Fonseca)
Obra
literária de Mario de Andrade, MACUNAÍMA
o herói sem nenhum caráter, considerou-se
a profundidade de suas marcas expressivas, a abrangência da pesquisa que anima a obra e o complexo processo
construtivo que permeia a organização deste rapsódio (qualidade humana:deuses, animais...)
Esta
obra, visava dar visibilidade aos escritores do Movimento Modernista (cuja rubrica ainda é a Semana de arte Moderna),
realizada em 1922 na cidade de São Paulo).
Este
movimento passava da natureza estética para a ideológica. E procurava romper
com o modelo europeu, passando a valorizar a cultura local, sem desconectar do
externo (do que vem de fora).
Cravam
em Macunaíma muitas metamorfoses locais vistas
como deformações da herança européia (letrata e iletrada) desde o século
XVI, por força das mais díspares mesclas, sejam primitivas ameríndias e
africanas, ou oriundas de imigrações de tempos mais recentes. Por exemplo, no
século XX, a cidade de São Paulo era um grande parque industrial, tendo que
buscar mão de obra especializada europeia e de todo o mundo e estes vinham pra
cá fugindo da primeira guerra mundial (1914-1918).
Acontecerão
grandes mudanças no ritmo provinciano, chamado por Mario de Andrade de Pauliceia desvairada. A maturidade do
Movimento Modernista, acontecerá com Macunaíma, que trás todas as culturas e
aspectos contraditórios.
As
culturas primitivas se misturavam a vida cotidiana e essa qualidade humana de
deuses e animais eram objeto de estudo para os modernistas. O Movimento
Modernista foi o preparador de um estado de espírito nacional.
O
Brasil era visto pelo autor como “corpo espandongado, mal costurado que não tem
direito de se apresentar como pátria porque não representando nenhuma entidade
real de qualquer caráter que seja nem racial, nem nacional, nem siquer
sociológica é um aborto desumano e anti-humano”.
Macunaíma
seria entender a partir de um olhar critico a diferença entre a linguagem dos
primogênitos com os segundos filhos. Portugal-Brasil, e este último se
distância do 1º, ou seja, do modelo original.
Macunaíma é uma proposta literária de cunho
antropofágico. O mito escolhido por Mário de Andrade foi o indígena caraíba, no
extremo Norte em Rondônia, embora ele considere todas as outras fronteiras.
Mesmo num lugar diverso e num tempo anterior ao da cultura europeia instalada
no Novo Mundo.
O
que ele considerou foi o caráter oscilante entre o mito caraíba e a forma de
ser do brasileiro. Macunaíma era um ser multiculturalista.
Ele
chega a cidade trazendo sua canoa cheia de cacau para trocar por dinheiro e
gastar com as mulheres.
Macunaíma
esperto como é vai percebendo o valor da escrita, percebe que falam de um jeito
e escrevem de outro.
Mas
ele, sem conseguir se ajustar as regras do mundo e do dinheiro, será arrancado
de sua identidade. E assim, pobre e doente, opta por voltar as origens. Leva
algumas lembranças. Mas os irmãos morrem no retorno.
Ele
quer recobrar a consciência, mas ela foi comida pelas formigas (saúvas). Ele
pega a consciência de um hispano americano e acaba se dando bem. E é atraído
pela Uiara (mãe das águas). Com
calor entra no lago e sua perna é devorada por piranhas. O mito solar tem pena
dele, mas desconsolado com a terra, decide ir para o céu.
O
livro fala também sobre a moda urbana-rural, e na moda, a indecisão da linha,
da evolução harmônica, a moleza de movimento a tornam eminentemente vaga,
improvisatória, quase oratória. O narrador de Macunaíma é um rapsodo (ouvir, assimilar, transformar)
que ponteia na violinha e espalha pelo mundo a história que ouviu de um
papagaio, assimilou e transformou.
Mario
de Andrade vai delineando um problema mais abrangente que aflige o artista,
tensionado entre o primitivo e o moderno, frente a padrões que se transformam,
conforme o cenário da época. Ele usa o termo “somos os primitivos de uma nova era”. Segundo ele “o mundo civilizado é arrítmico e a cultura
é rítmica”, e assim ele caracteriza a arte moderna como rítmica, por ser a
expressão de um mundo primitivo que é rítmico e portanto cultural. Então, para
ele a arte moderna prolonga um ritmo cultural.