quarta-feira, 14 de agosto de 2013

cont.: Retratos Urbanos...

Continuação:

A crônica, é um gênero literário que, a despeito de ter sido considerado, durante muito tempo, como um gênero menor, tem merecido hoje a devida atenção por parte da crítica. Como afirma Antônio Cândido, não há que esperar uma “literatura feita de grandes cronistas”, assim como tampouco se “pensaria em atribuir um prêmio nobel a um cronista”. Entretanto, o crítico reconhece que, na crônica, “tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos (...)”. E tudo porque “a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas (...)”, não necessitando, para tal, de nenhum “cenário excelso”, já que a perspectiva do cronista “não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés do chão”.

Nos termos de Cândido, mesmo sendo um gênero sem grandes adjetivações, livre de vôos grandiloquentes, a crônica “pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas”. Assim, é de opinião que a crônica pode dizer coisas sérias sobre inúmeros aspectos da vida. Por exemplo, na apresentação de uma simples conversa fiada. Não é à toa que o crítico, no exato momento em que fala que a crônica perece mesmo um “gênero menor”, sai-se com essa: “‘Graças a Deus’ – seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós”.

Entretanto, parece que alguns não compreenderam a mensagem de Cândido. É o caso dos organizadores de História em cousas miúdas, uma coletânea de textos produzidos, em sua maioria, por historiadores sociais da cultura da UNICAMP. Não compreenderam, por exemplo, que o crítico, ao se referir à crônica como um “gênero menor”, não é para desqualificá-la literariamente e sim para valorizá-la. Inúmeros trechos no texto de Cândido indicam essa valorização. Sendo “amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais simples e também nas suas formas mais fantásticas”, ainda que tenha nascido despretensiosa e sem a pretensão de durar, a crônica, em íntimo convívio com a palavra, cada vez mais leve, cada vez mais poética, já não condiz com o viés argumentativo da crítica política dos primeiros tempos no Brasil, quando de seu surgimento com a série “Ao correr da pena”, de José de Alencar

 

Retratos Urbanos no Brasil: a crônica como fonte Histórica (segundo -Gervácio B. Aranha)



 

 RETRATOS URBANOS NO BRASIL:

A CRÔNICA COMO FONTE HISTÓRICA

 

Segundo Gervácio Batista Aranha, o objetivo deste estudo é demonstrar que a crônica publicada nos jornais, que é lida por uma multidão, numa época em que a imprensa não tinha concorrência como veículo de comunicação de massa, constituiu uma fonte cada vez mais recorrente por parte de historiadores preocupados com a emergência do urbano entre os séculos XIX e XX, em especial no que se refere ao modo como os atores sociais produziram, sentiram e representaram a vida cotidiana citadina. Assim, é praticamente impossível focalizar o cotidiano de inúmeras cidades pelo Brasil afora, no período estudado, sem passar pelos cronistas locais. Daí a identificação de muitas delas com seus respectivos cronistas: o Rio, de Assis; Bilac ou Lima Barreto, o Recife de Mario Sette, dentre outras.

De saída, uma advertência: a recorrência aos cronistas urbanos implica certo crédito para com a perspectiva da representação, aqui entendida como tentativa de tradução, no tempo presente, de experiências do outro no tempo. Trata-se, por assim dizer, de uma noção de representação que se pauta numa nova perspectiva mimética, haja vista tratar-se de uma mímesis (O demônio da crítica: literatura e senso comum) que, a despeito de não perder de vista o referente da linguagem, não é incompatível com a ideia de criação. Até porque, dotado de cultura histórica peculiar ao seu próprio presente, ele se debruça sobre as fontes disponíveis com perguntas que não estavam na ordem do dia nas gerações anteriores.

O texto de Gervácio Batista Aranha focaliza a crônica como uma espécie de sonda por excelência para a compreensão da vida cotidiana, captada em seus ritmos e em suas ambiguidades, em que nada escapa aos olhos curiosos desse eterno flâneur, o qual percebe desde os populares que circulam nas ruas, becos ou avenidas, a exemplo de mendigos ou prostitutas, até as últimas transformações da paisagem urbana, dentre outros aspectos por ele observados -, para que, a partir dessa matéria-prima, possa transformar, por meio de recursos literários, fatos brutos do cotidiano em temas de leitura agradável.

Adolescência - uma pequena parte dela

  Adolescência   Dos onze aos quatorze anos eu estudei no CCCM, fica ao lado da Igreja Coração de Maria, na Av. Paranaíba no Centro de Goi...