Adolescência - uma pequena parte dela

 

Adolescência

  Dos onze aos quatorze anos eu estudei no CCCM, fica ao lado da Igreja Coração de Maria, na Av. Paranaíba no Centro de Goiânia, uma Igreja tradicional em Goiânia, e eu frequentei as missas das 10 da manhã lá, por longa data. Foi lá que eu assisti uma palestra importantíssima para a minha vida que me estimulou a leituras e a conhecer mais sobre a Igreja e a participar de grupos de jovens e me engajar. A palestra foi com Neimar de Barros, um autor que tem vários livros publicados, voltados para a juventude daquela época, entre eles o Livro “Deus Negro”. Maravilhoso! Quem nunca leu, precisa conhecer. E através dos livros de Neimar veio a vontade de ler cada vez mais, e aprendi muito com outros autores como o Padre Heber Salvador de Lima com lindos contos e poemas sobre a natureza e suas flores belíssimas, sobre “Essa juventude e seus namoros nem sempre maravilhosos” e outros (nome de outro livro). Pe. Lima escreveu o Livro “A Baronesa”, que toda a minha família leu. Até minha mãe que tinha pouca leitura foi estimulada a ler e como nunca tinha tempo e achava que nunca seria capaz de ler um livro inteiro, já com mais de oitenta anos, ela lembrou desse Livro e pediu para ler “ a Baronesa”, porque nunca esqueceu como aquele livro fez diferença na vida de todos os seus filhos. É mesmo um livro que se deve procurar e fazer a leitura. A Baronesa de Toronto, no Canadá, nos ensina muito sobre a vida.

Nesta época eu acompanhava minhas irmãs nos grupos de jovens da Paróquia Santo Agostinho. Eu era praticamente a mascotinha do grupo, porque todos eram jovens e eu ainda estava no início da adolescência. Mas foi lá que tive meu primeiro contato com esses grupos que eram muito ativos naquela época. Que apesar de ainda estamos vivendo um período final de ditadura militar, já se vislumbrava novos tempos.  Eu mesmo nunca senti de verdade os efeitos da ditadura, apenas aprendi que não deveríamos falar nossa opinião sobre as coisas que aconteciam na sociedade.

Escrevendo estas memorias me veio uma lembrança muito engraçada que aconteceu por volta dos meus 9 anos de idade.

Nestes primeiros anos em que mudamos para Goiânia era comum eu e minha avó voltarmos de viagem de trem para Araguari, por pelo menos duas vezes por ano. As viagens eram maravilhosas. Em todas as férias de julho e janeiro íamos, eu e ela (minha avozinha) viajando de trem no vagão de segunda, porque assim era mais barato a viagem. A diferença entre o vagão de primeira e o de segunda é que nosso vagão os bancos eram de madeira e para melhorar nossa noite de viagem, porque o trem saia de Goiânia as 19 horas da noite e chegava em Araguari, por volta da 7 horas da manhã. Isso quando não tinha barreiras caídas pela estrada de ferro, e nesse caso passávamos horas no meio do nada a espera de resgate de pessoas para consertar a via de ferro, tirar as barreiras e autorizar que a gente pudesse seguir viagem. Para mim tudo era festa, porque não tinha consciência do perigo e da insegurança que aquela situação despertava. E por sorte e principalmente por proteção de Deus, nunca passamos por situação de perigo real.

A única coisa que eu tinha em mente era em que horas íamos chegar. Porque tínhamos mantimentos suficientes para não sentir fome, mesmo com os atrasos. Sempre sobrava matula (lanche nas latas que levávamos). Ah, uma coisa que todos sempre procuravam quando chegávamos ou lá ou aqui, era se tinha sobrado matula, eram deliciosas almondegas envoltas na farinha de milho e guardadas na lata, ou o pão com carne moída que ficavam grudadinhos guardados também nas latas para não perder com facilidade. E para beber, não me lembro de nada em especial a não ser a água mesmo. As vezes minha avó tinha um dinheirinho sobrando e comprava um refrigerante no próprio restaurante do trem. Isso me fazia sentir importante, por estar comprando do próprio restaurante.

Nesta viagem, eu fui com minha avó, mas meus irmãos e irmãs também foram, eu só não me lembro se fomos juntos. O mais importante que me lembro era que ao chegar na casa da tia Neném (ela era cunhada da minha mãe, irmã do primeiro marido que foi o pai dos meus 3 irmãos mais velhos) e do tio Pio, era maravilhoso. Ela era uma pessoa especial que sempre nos fazia sentir em casa. Ela não tinha filhos naturais, mas criava um garotinho com o nome de Irineu, um negrinho muito engraçadinho uns dois anos mais novo que eu e éramos muito amigos. Pena que depois de crescidos, nós nos afastamos. E ele mudou, foi para o exército, depois que voltou logo casou e faleceu pouco tempo depois. Mas nós nos perdemos antes de tudo isso. Quando ele cresceu e foi para o exército, eu também já estava me envolvendo por aqui com meu trabalho e logo me casei também e nesta fase da vida as pessoas geralmente se desconectam e se perdem, as vezes até se encontram mais tarde, mas no caso dele, não tivemos tempo para o reencontro.

Mas voltando a casa da tia Neném, certa tarde depois de irmos a casa da tia Dorcina (tia por afinidade), uma casa onde tinham 23 pés de jaboticaba, cada um carregava uma sacolinha de jaboticaba, quando chegamos, tinha uma subidinha de terra que parecia um escorregador, e minhas irmãs e irmãos junto com os amigos que foram com eles, tiveram uma ideia de jogar água naquele local do escorrega e brincar de ficar descendo na lama, ficaram horas brincando e jogando lama uns nos outros e escorregando, foi inesquecível. Assim como a viagem de volta quando me lembro bem de todos no vagão, cantando um elefante atrapalha muita gente, dois elefantes atrapalham muito mais, três antes ... e assim sucessivamente. Ou então cantando a música do galo, meu galo tinha um pintinho, o pintinho piu o pintinho.... e assim os jovens lembravam cada vez de um animal diferente e cantavam fazendo o som do animal durante a madrugada.

E assim passei pela adolescência, com poucas, mas boas lembranças dos acontecimentos.

Me lembro muito bem também de que eu e minha avó gostávamos de ir a novena de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. A Igreja fica no setor Ferroviário, íamos toda semana na quarta-feira e assim eu aprendi a amar a nossa mãezinha do Céu, através da Nossa senhora do Perpétuo Socorro. Levávamos sempre um litro de água para ser benzida pelo padre Francisco e depois mais tarde (quando o Padre Chicão se afastou da Igreja para se casar com dona Leny) pelo padre Sérgio, um italiano muito bravo e explorador. Digo isso porque o padre Sérgio foi o responsável pela desilusão da minha mãe com os padres. A partir dele, como dizia minha mãe, ela aprendeu que padre nada mais é que um homem comum. Porque antes ela pensava que eles eram santos. Até que ao conversar com o próprio Dom Fernando Gomes dos Santos, Bispo da Arquidiocese de Goiânia, naquela época, e falar sobre o seu sentimento de raiva pelo padre, porque ela achava que estava pecando. E o dom Fernando dizer que padres ele tinha muitos, mas santo, ele não tinha nenhum. O fato era que o padre Sergio pegou um dinheiro emprestado com minha mãe, dinheiro que ela vendeu a casa de Araguari, para comprar outra aqui em Goiânia, porque vivíamos pagando aluguel e aí, ele não quis devolver, dizendo que aquele dinheiro era para a Igreja, e a minha mãe ficou a “ver navios”. Recebeu uma parte depois de muita briga e o resto só Deus sabe onde foi.

Falando em Igrejas, eu frequentei também a capelinha da Paróquia Nossa Senhora de Fátima. A Paróquia fica no setor aeroporto e foi lá que fiz minha primeira Comunhão. E a capelinha ficava na rua 59 em frente a pracinha onde eu morei nos primeiros meses assim que vim para Goiânia.

Nesta Capelinha eu aprendi a assistir as missas todos os dias, pois a tia Maria, irmã da tia Dorcina (aquela de Araguari dos pés de Jaboticaba), então a tia Maria era nossa vizinha, morava uma rua pertinho da nossa no Bairro popular, e ela ia a missa todos os dias, e passava lá em casa e me convidava para ir, eu ia com muito gosto. Assim fiz também a catequese por três anos seguidos, porque antigamente era um ano só, mas quando chegava no final do ano, na época de fazer a primeira comunhão era época de a vovó ir para Araguari, e eu amava ir e reencontrar meus coleguinhas, então eu desistia da catequese e ia viajar com a vovó. No ano seguinte eu fazia tudo de novo. Isso acabou sendo bom para mim, porque assim eu pude me aprofundar mais, participar mais da Igreja e aproveitar mais também junto com a minha avó.

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