quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Missões ao Interior e interpretação do Brasil


 MISSÕES AO INTERIOR E INTERPRETAÇÃO DO BRASIL

 

(Nísia Trindade)

 

            Missões, foram viagens de Toquevile à Inglaterra e aos EUA, fazendo uma análise sobre a transição da aristocracia para uma ordem democrática. E a exemplo de suas missões, Nisia Trindade analisou e argumentou atitudes analítica que passam para atitudes estéticas no Brasil à época da República.

            O tema deste capítulo mostra  a importância das viagens realizadas nas primeiras décadas da república na construção de interpretações sobre o Brasil referidas a noções como território e contrates entre o  sertão e o litoral. As viagens são destacadas como fundamento importante de legitimação de idéias e praticas sociais.

            Inicialmente, procuro discutir os vários significados atribuídos à palavra sertão, enfatizando aquele que me parece ser o mais corrente entre os intelectuais cientistas do século XX.

O termo usado por Nisia Trindade foi “missão civilizatória” da República, englobando as viagens científicas, expedições militares e incursões ao interior, que associaram a consecução de objetivos estratégicos como a construção de linhas telegráficas e troncos ferroviários, a ações de profilaxia e de conhecimento científico. Vieram engenheiros, cientistas do Instituto Osvaldo cruz e militares.

Se para Aurélio Buarque de Holanda, sertão é (Região agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas; ou terreno coberto de mato, longe do litoral; ou ainda, interior pouco povoado). No século XVI e XVII, Maria Elisa S. Mader observa que seu sentido transcendia o de uma delimitação espacial precisa. Discutindo o imaginário sobre sertão, elaborado por viajantes, missionários e cronistas, reportando-se a Sérgio Buarque de Holanda, uma colonização de mercadores voltados para o mar  em que faltava o traçado meticuloso e planejado do colonizador.

Mais do que em oposição a litoral é em contraste com a idéia de região colonial que o imaginário sobre sertão se constitui, o espaço preenchido pelo colonizador estabelecia duas instâncias de poder: a Igreja e o estado.

Enquanto o espaço colonial era estabelecido pela Ordem do estado e da igreja, o sertão era terra de ninguém, lugar de inversão de valores, de barbárie, e incultura, conforme disse Euclides da cunha em OS SERTÕES.

 

O sertão como Patologia, abandono e essência da vida Nacional


O Sertão como Patologia, Abandono e Essência da vida Nacional

 

Nísia Trindade Lima

 

O Instituto Osvaldo Cruz, em sua viagens realizadas pelo interior do Brasil, através de seus cientistas, detectou doenças que ficaram caracterizadas como básicas da nacionalidade, o que determinou segundo eles abandono das elites políticas.

Segundo Nisia Trindade, o mais importante é perceber como uma perspectiva médica de olhar para o sertão brasileiro transforma-se numa questão da cultura e da política compartilhada por diferentes intelectuais.

Doenças como a malária, a ancilostomose, são fontes de representação da sociedade e se aliam a preguiça e a apatia do cidadão. Como um discurso científico, uma tese higienista, serviu de base à elaboração de uma interpretação sobre a sociedade. Fazendo com que os cientistas fossem identificados como missionários do progresso, legitimadores do moderno.

Os cientistas eram vistos como intelectuais, e ao discutirem o movimento de reforma da saúde pública do primeiro período republicano, acabam por levantar o duplo sentido do movimento, a construção  do homem do sertão e do intelectual. Mostrando suas renúncias a suas tradições e o desconforto psíquico fazendo parte do intelectual.

O tema da identidade nacional se entrelaçaria ao da identidade dos intelectuais, assim como a idéias que nortearam a campanha do saneamento rural influenciou sensivelmente o pensamento social brasileiro e o imaginário social.

Os autores clássicos da ciências sociais analisaram os estudos com objetivo específico de analisar as relações entre o discurso higienista e o pensamento social brasileiro. Muitas vezes, higiene e saúde pública nos dizem mais a respeito da ordem cultural e social mais ampla, do que sobre seus objetos específicos de investigação.

Normatizar a vida social a partir de preceitos didáticos pela higiene foi um fenômeno tão notável que levou Pierre Rosanvalon (1990) a falar de um “Estado higienista”.

Identifica-se, então, como obstáculo a esse processo, o conflito entre saúde e riqueza.

Até metade do século XIX, encontra-se no chamado neo-hipocratismo, uma concepção ambientalista da medicina baseada na hipótese entre doenças, natureza e sociedade. O NEO HIPOCRATISMO deu origem a duas posições que durante os séculos XVIII e XIX alternaram se na explicação sobre as causas e formas de transmissão de doenças: a contagiosa e a anti contagiosa ou infeccionista.

Uma doença podia ser transmitida de indivíduo a indivíduo são, por meio do contato físico ou, indiretamente, por meio de objetos contaminados pelo doente ou da respiração do ar contaminado pelo doente ou da respiração do ar circulante.

Na concepção contagiosa, as práticas de isolamento de doentes, a desinfecção de objetos e a instituição de quarentena consistem em re3sultados importantes de tal concepção sobre a transmição das doenças.

As características mais marcantes da higiene no período que antecedeu à consagração da bacteriologia, consistia na indeterminação da doença. O Ar, a água, as habitações, a sujeira, a pobreza, tudo poderia causa-la.

Louis Pasteus, George Rosem e outros, entendem que a bacteriologia teria gerado o abandono das questões sociais pela saúde pública; a caça aos micróbios deslocando-se a observação do meio ambiente físico e social para a experimentação confinada ao laboratório.

Os estudos dos micróbios entrelaça-se fortemente ao da própria sociedade, redefinindo  relações, formas de contato e as noções de pureza e de risco.

A questão da higiene permitira intervir positivamente sobre o insalubre espaço urbano.

Os narradores oitocentistas descrevem a cidade como cenário das manifestações, das relações de trabalho e sociabilidade. A cidade, então passa a ser vista como laboratório social, onde se poderiam observar os novos aspectos da nova ordem: a fome, a doença, a embriaguez e a loucura.

A idéia de inslubridade e o surgimento de movimentos de reforma da saúde pública em áreas rurais aparecem mais fortemente associados à tradição norte americana.

O estudo dos movimentos de reforma da saúde pública nos estado Unidos da América do Norte tem apontado a lentidão desse processo comparativamente à Europa, onde os movimentos de reforma urbana e das condições de saúde datam do século XVIII.

Na Inglaterra dos séculos XVI, e XVII, podemos dizer, nos estados Unidos da primeira metade do século XIX, era comum que se buscasse a explicação para a doença em algum erro moral, nos excessos, na alimentação inadequada e assim por diante.

Durante o ano de 1840, notam se iniciativas mais voltadas para a reforma social, que incluíam a ação do estado e a criação de agências estaduais e federais de saúde, visando ao diagnóstico de algumas doenças como resultado de desigualdades sociais. Eram patologias sociais, para as quais havia necessidade de solução de natureza pública. Era comum a associação entre civilização e doença, o que resultava comk freqüência, em imagem negativa das cidades.

Greiscom, um anticontagionista, defendeu a concepção de que doenças como o cólera, a malária e a febre amarela eram transmitidas prioritariamente pela atmosfera.

A guerra civil contribuiu para o aumento da consciência social acerca das doenças epidêmicas. E após a guerra, um número crescente de reformadores voltou-se para   problemas sociais de ampla variedade. Efeitos destas campanhas contra verminose no sul consistiu no fato de os reformadores das escolas rurais atribuírem prioridade à saúde dos escolares e ao ambiente da escola no processo de aprendizagem.

 O movimento sanitarista mostrou que a doença era o símbolo da apatia do trabalhador rural e do descaso das elites políticas diante dos problemas nacionais.

Na verdade, ao afetar indistintamente brancos e negros, a ancilostomose seria no discurso de um dos principais militantes do movimento sanitarista durante 1910 a 1920, um elemento de nacionalização do imigrante, vitima da mesma forma que o trabalhador nacional, da pandemia da preguiça.

Sob o estímulo do clima intelectual suscitado pela experiência da Primeira Guerra Mundial, inúmeros caminhos de construção da nacionalidade foram sugeridos, envolvendo temas como saúde, analfabetismo e profissionalização do exército.

O Brasil é um imenso hospital, mas  força do sertanejo garantiria a integridade territorial e política do país.

O movimento sanitarista reporta-se ao Brasil descrito pelos relatórios das expedições do Instituto Oswaldo Cruz, e escritores como Monteiro Lobato (1957, p.269-92), que publicara em O estado de São Paulo, dois artigos a partir de sua experiência como fazendeiro no interior de São Paulo; ele relata a verdadeira face do caboclo brasileiro, objetivado por ele como “piolho da terra”, “parasita”, “quantidade negativa”, em suma, o principal obstáculo ao progresso do Brasil.

Em 1918 colocaram em cena um dos personagens mais conhecidos da ficção nacional, o JECA TATU, um caipira ou “piraquara” do Vale do Paraíba, segundo explicações de Lobato, o Jeca seria a medida que se intensificava o debate sobre as precárias condições de saúde como explicação para a apatia do homem no interior.

A campanha sensibilizou progressivamente nomes expressivos das elites intelectuais e políticas do país e teve como um marco mais significativo a criação da Liga Pró Saneamento do Brasil, em fevereiro de 1918.

Apresentando-se como um movimento de caráter amplo, orientado por um nacionalismo que queria resgatar “as coisas nacionais” e livrar o país dos males representados pela doença.

A solução para uma maior centralização das ações sanitárias no âmbito federal ocorreu  em 1920, com a criação do Departamento Nacional de saúde. A ênfase na saúde coletiva e nas chamadas endemias rurais marcou a constituição do departamento Nacional de Saúde Publica e a formação de novas gerações de profissionais.

Tal processo não ocorreu isoladamente no Brasil e contou com a participação ativa da Fundação Rockefeller no ensino médico, como foi o caso da criação da cadeira de higiene na faculdade de Medicina de São Paulo.

Percebe-se a fragilidade do homem diante da natureza tropical. O sertão aparece quase como sinônimo de uma natureza de difícil domesticação e, mais uma vez, isto tem preferência a quase totalidade do território.

O advento da bacteriologia reformulou os tempos do debate sobre a origem das doenças, deslocando a importância atribuída por tanto tempo ao clima, na determinação de inúmeras delas.

E no século XX, o debate sobre a natureza não se resume as à questão das doenças, mas há um debate que circula entre o selvagem e o civilizado. Um com uma vida totalmente predatória a natureza enquanto o outro com uma vida mais próxima a natureza, e por isso saudável e harmonioso.

Percebe-se a presença do que se tem denominado como eugenia negativa, centrada no controle sobre casamentos e na proposta de esterilização dos degenerados. O caso brasileiro o principal porta voz dessa posição é o medico Renato Kehl, publicista incansável das teses de casamentos indesejáveis e da necessidade do estabelecimento de cotas raciais de imigração. No ano de 1930, fez-se sentir a influência do pensamento eugenista germânico e norte americano.

Segundo James Clifford, o processo de construção do objeto de estudo do etnógrafo é, ao mesmo tempo, o processo de construção de sua própria identidade.

Adolescência - uma pequena parte dela

  Adolescência   Dos onze aos quatorze anos eu estudei no CCCM, fica ao lado da Igreja Coração de Maria, na Av. Paranaíba no Centro de Goi...