domingo, 20 de abril de 2014

DIVISÃO NA COMUNIDADE DE CORÍNTIO

DIVISÃO NA COMUNIDADE DE CORÍNTIO Para percebermos a divisão na comunidade de Corinto, abordaremos uma parte da literatura sagrada através da 1ª Epistola de Coríntios – passando pelo modo de produção Romano. De forma a trabalhar as memórias em narrativas evangélicas apresentadas por Paulo, inscritas em cartas aos Coríntios. Que foram experiências seguidas de envio e anuncio apostólico, para os seus “irmãos” das comunidades. Pois se sentindo fraco, receoso, considerava-se alguém cheio de tremor, e em uma cidade cosmopolita, pede aos céus a graça de Deus e trabalha em sua Epístola, a sofia, a corporeidade, o Espirito Santo e a sociedade alternativa; transmitindo àqueles a quem chamava de irmãos. Os modos de produção conhecidos são (tribal, primitivo, asiático, feudal, escravista, socialista e capitalista). E em Roma a base econômica no império era o comércio com a exploração do trabalho escravo. Mas além da mão de obra escrava, havia trabalhadores(as) livres: artesãos independentes, camponeses e pescadores que trabalham para garantir o próprio sustento e de suas famílias. Sobre eles, o império fazia pesar sua mão de ferro, exigindo o pagamento de impostos, o trabalho forçado e o serviço militar. Esse modelo econômico produziu grande número de necessitados. Em contrapartida, tanto em Roma como nas províncias do império existia também uma grande leva social rica, onde nobres, aristocratas, sacerdotes, magistrados, juízes, alta classe de administradores e generais, se beneficiam do modelo econômico imperial e mantinha sua riqueza e seus privilégios às custas das camadas mais pobres. Essa elite monopoliza informações para usa las em proveito próprio, assim como os recursos financeiros que o poder central disponibiliza para obras e benfeitorias, manobrando tudo a seu favor. Esse modo de administrar era conhecido pelo nome de patronato, modelo que abrange todas as relações sociais, desde o imperador até os estratos sociais mais pobres. O imperador, como o grande protetor da sociedade, beneficiava os administradores e as elites locais com doações de cargos, títulos de honra e títulos de terras. Dessa forma, criava laços de gratidão, submissão e dependência. O mesmo se dava com os administradores locais e as pessoas ricas de diferentes cidades e províncias, que faziam “pequenos agrados” ao patrono. Devendo honra-lo publicamente respeitando-o na cidade, uma vez que realizava obras em benefício público. Outro recurso que o império romano utilizava para expandir seu poder e manter o controle social era a divinização da imagem do imperador, exibindo-a em moedas, broches, taças, estátuas e altares. É bom lembrar que o título de Augusto, usado pelo imperador, significava “venerável”. Além do sistema patronal e dos cultos oficiais ao imperador, o império romano possuía um exército bem equipado e bem pago, que garantia sua estabilidade. Era o Senatus popolusque romanus ou senado e o povo romano. Tudo isso na história do Império Romano é importante para entender Paulo. - Deuses - Imperador - Senado - Patronato (Equestres – podiam ser os generais, assim como cavaleiros de alto nível ou subiriam de nível) - Plebeus - Livres Paulo Apostolo é uma referência bíblica e para compreende-lo é necessário saber como ele se inseriu neste modo de produção. “Dou incessantemente graças a Deus a vosso respeito. Na verdade, o testemunho de Cristo tornou-se firme em vós” (1Cor 1, 2.6). Paulo é definido como biblista e fundador de comunidades. No vers. 27 “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte”, temos a chave da compreensão da pequena comunidade (ekklesia). Corinto, além de ser capital da província da Acaia, era também a cidade mais rica da Grécia e uma das mais importantes do império romano. Foi destruída pela primeira vez em 146 a.C. pelo exército de Roma, e foi reconstruída no governo de Júlio César em 44 a.C., passando à condição de colônia. A cidade possuía uma posição geográfica privilegiada, com dois portos: o de Cencreia, que fica no mar Egeu, e o de Laqueu, que dá acesso ao mar Adriático. Podia se fazer a travessia de um porto a outro, embora com grande perigo, pois ventos fortes empurravam as embarcações para um grande paredão rochoso existente no lugar, destruindo-as. E esse problema era resolvido da seguinte forma: quando um navio chegava a um porto, era empurrado por terra (sobre troncos) até chegar ao outro, em um trajeto de seis quilômetros. Este trabalho duro e penoso, era realizado por grande número de escravos. Como cidade de região portuária, é fácil constatar que Corinto era uma cidade essencialmente comercial. O império, por meio de sua política econômica, soube se beneficiar de todas essas atividades: e cobrava, com mãos de ferro, as taxas e impostos, o que levava os pequenos comerciantes e produtores rurais à falência. Os ricos se mantinham, pois eram donos de latifúndios e estavam inseridos na “rede” comercial. Isso fez crescer, cada vez mais, a diferença entre ricos e pobres. Para compreender Paulo é necessário ainda compreender o lugar social, e a sua inspiração, conversão e convicção em Jesus Cristo como o Filho de Deus. Os cristãos da comunidade de Corinto de origem judaica, chamados de judaizantes, ainda carregavam crenças e costumes trazidos do judaísmo. Por isso, tinham escrúpulos em compartilhar refeições com cristãos de origem grega, com receio de se tornar impuros. Em Antioquia, já havia ocorrido um conflito entre Paulo, Pedro e Barnabé pelo mesmo motivo (Gl 2,1-14). Na ocasião, Paulo tomou uma posição mais livre e não concordou em impor costumes judaicos aos cristãos de outra cultura. O grupo de Pedro parecia estar apegado às tradições judaicas. Enquanto o modelo do império excluía, marginalizava, escravizava, e dividia a sociedade em classes, priorizando o lucro, a luta pelo poder e por status social, a comunidade cristã deveria incluir, partilhar, promover, integrar, a igualdade social, a fraternidade, a solidariedade e o amor. E os fracos eram os mais necessários na ekklesia (pequena comunidade) e Paulo era muito firme com todos eles, e mostrava que a divisão deveria ser superada cap. 12 -25 “a fim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham igual solicitude uns com os outros.” E os chamava de Adelfoi = irmão. Este era um termo colocado por Paulo em Cor. 1. 10. Para ele, estava muito claro que o projeto alternativo do evangelho de Jesus crucificado passava necessariamente por essas novas relações sociais. Em 1Cor 6,1-8,. A comunidade de Corinto passava por contendas internas, e por isso alguns membros denunciavam os seus próprios irmãos nos tribunais iníquos da cidade. Paulo condenava severamente essa atitude: “como vocês podem constituir juízes àqueles que a Igreja despreza?” (1Cor 6,4). Como é que um tribunal corrupto pode julgar a causa dos santos? Paulo dizia à comunidade que rompesse com esses tribunais e escolhessem pessoas entre os seus, para julgar as causas da comunidade. E chegou a exigir dos pobres, vis e excluídos uma ruptura com a sociedade opressora e corrupta. E em uma de suas cartas aos Coríntios ele deixou: 1 Cor. 26 a 31 26 Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. 27 Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; 28 E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; 29 Para que nenhuma carne se glorie perante ele. 30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; 31 Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor. A divergência em opiniões fez com que acontecesse a divisão do Patronato em cada região haviam pessoas de diferentes pensamentos e situações, o que acabou por criar contendas entre aqueles que faziam parte do patronato na igreja de Corinto. E Paulo então deixou registrado no capitulo 1.10-13. 10 Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. 11 Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. 12 Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. 13 Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? O espírito mundano instalado no interior de cada um, acabava por causar dissensões nas igrejas e no capítulo 3.3-7 da Primeira Carta aos Corintios, Paulo mostra como o importante é o que vem de Deus, pois é Ele que dá o crescimento. 3 Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? 4 Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? 5 Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o SENHOR deu a cada um? 6 Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. 7 Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Embora Paulo fosse um trovão quando a coisa não caminhava, ele também respeitava muito a diversidade. Ele pregava nas praças públicas (ágora) anunciando seu pensamento. Deixando muito claro no vers 4 seu ideal em demonstrar o espirito e o poder em Deus. “A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder”. A diversidade é a dialética da vida – ela é vital para a vida em movimento. A Ekklesia de Corinto = dividia-se em: esclarecidos e espiritualistas glossolálicos (falavam várias línguas) pobres e escravos Aproveitando-se da camada pela qual ele pertencia, não hesitava e não temia anunciar a Jesus de Nazaré, o crucificado. Ao contrário, considerava-se o último dos chamados por Jesus. Não hesitava, porém, em se propor como exemplo a ser seguido; não como mérito, mas para mostrar que seguir a Jesus crucificado exige transparência, desapego e coerência. Esta era sua verdadeira estratégias, falar de como ocupava o seu tempo e envolvia as pessoas que trabalhavam com ele, como as respeitava e encorajava, como planejava, como rezava, como amava as comunidades. Toda a sua vida estava voltada para esta missão. Parece que não descansava nunca. Segundo alguns autores, Paulo respirava o evangelho. Era um apaixonado pela mensagem de Jesus. Mas não era nada fácil manter estas convicções às massas populares, pois o império investia fortemente em propaganda no intuito de convencer os povos de que o mundo estava vivendo grande momento de paz: a pax romana. Dizia-se: “Não há nada que o homem possa desejar dos deuses que Augusto, o rei de Roma, não possa conceder ao mundo”. Ainda completavam este círculo, o culto às divindades greco-romanas e ao imperador, que em tempos de crise se intensificavam, além de um poderoso e bem treinado exército. Se, por um lado, o modo de produção escravagista respondia pelos produtos para o livre comércio, por outro, produzia uma multidão cada vez maior de pobres, doentes e famintos. Como indica o próprio nome desse modelo (escravista), era sustentado sobretudo por escravos. Uma multidão insatisfeita à espera e à procura de propostas alternativas. Essa insatisfação se manifestava nas constantes revoltas, sempre reprimidas com extrema violência: torturas, humilhações públicas, e até crucificações. As principais vias eram os lugares prediletos para expor os corpos crucificados dos revoltosos. E era nesse ambiente que Paulo se movia com muita desenvoltura comercial greco-romano. Tendo nascido em Tarso, na Cilícia, conforme os Atos dos Apóstolos (At 22,3), viveu grande parte da sua vida nas cidades greco-romanas. Por isso devia saber falar muito bem a língua grega e conhecer os arranjos desse mundo. Uma das marcas do apóstolo foi a transformação que ele sofreu em sua vida pessoal (At 9,1-9; 22,1-11; 26,9-18), normalmente conhecida como “a conversão de Paulo”. O mais certo é considerar que o testemunho dos cristãos perseguidos, particularmente os martírios, como o de Estêvão (cf. At 6,8-8,4), causaram grande impacto na vida de Paulo. No entanto, a maior mudança que ele sofreu não foi a de judeu zeloso para cristão fervoroso, mas a de posição social. De homem respeitado, da tribo de Benjamim, educado aos pés de Gamaliel, cheio de zelo pela Lei e possível cidadão romano e membro do Sinédrio (At 16,37; 22,1-3.35; 26,10), Paulo assumiu a condição de desempregado, pobre, perseguido, humilhado, sem segurança, sem casa, membro de uma seita que vivia à margem da sociedade. Para garantir seu sustento, sujeitou-se ao trabalho manual (1Cr 4,12; At 20,34) relegado aos escravos e considerado vergonhoso pela mentalidade greco-romana. Enfim, a maior mudança que ele sofreu foi a mudança sociológica. Essa mudança, influenciou muito a Paulo em sua estratégia pastoral. Em At 17,16-34 Paulo se encontra em Atenas, a espera da chegada de Silas e Timóteo, percorre toda cidade no intuito de anunciar Jesus, e depois à praça pública ou ágora, onde os filósofos debatiam entre si e outros buscavam aí as novidades. Ele também vai à praça para “vender seu peixe”. E é convidado a expor a sua nova doutrina no areópago, que outrora era o tribunal de Atenas. Fundamentando bem os seus argumentos, inicia o seu discurso diante dos magistrados. No entanto, sua estratégia de convencer os cidadãos atenienses em seu terreno, não dá resultado. Nem lhe permitem terminar o discurso. Foi um fracasso. Totalmente frustrado com Atenas e seu povo, Paulo se dirige à cidade de Corinto e vai morar com o casal Priscila e Áquila, exercendo a mesma profissão que eles (At 18,1-3). Em Atenas, Paulo queria ser filósofo; já em Corinto, vai ser fabricante de tendas. Em Corinto, Paulo tem sucesso. Com o aprendizado trazido de Atenas, em Corinto ele não se apresenta com o “prestígio da palavra ou da sabedoria para anunciar o mistério de Deus, sua pregação nada tinha de discurso persuasivo da sabedoria, mais trazia claro o objetivo de enaltecer não a sabedoria dos homens, mas o poder e grandiosidade de Deus. E diferentemente do ocorrido em Atenas, muitos acolhem e entendem a mensagem de Jesus crucificado. Ali, Paulo consegue organizar uma grande comunidade, algo que não conseguiu em Atenas. Obviamente, nessa comunidade, não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos ou de famílias de prestígio. O que lhe dá a oportunidade de conhecer naqueles irmãos o próprio Jesus crucificado. Quando vai morar com as famílias, trabalhar com elas viver a experiência como elas, passar fome, insegurança, sofrer desprezo e perseguição, as pessoas começam a entendê-lo. E ele começa a entender as pessoas. Ou seja, quando se torna pobre entre os pobres e excluídos, aí está o segredo da estratégia pastoral de Paulo. A linguagem da cruz era entendida pelos pobres, sem nenhuma necessidade de grandes filosofias. Aliás, a sabedoria da linguagem e a cruz não são compatíveis: “Cristo me enviou para anunciar o evangelho sem recorrer à sabedoria do discurso, para não tornar inútil a cruz de Cristo” (1Cor 1,17). Os pobres e marginalizados têm necessidades diferentes das apresentadas pelos que estão bem instalados: “os judeus pedem sinais e os gregos procuram sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Cor 1,22-23). Para chegar a essa conclusão, Paulo teve de viver primeiro a experiência do fracasso no areópago de Atenas e do desprezo de seus compatriotas nas sinagogas, para então sentir-se acolhido em igual condição pelos sofredores do mundo, pelos “descartáveis” da humanidade. Em 1Cor 4,11-13: ele disse “Até a presente hora sofremos fome, sede e vestimos trapos. Somos esbofeteados e não temos morada certa; nos afadigamos trabalhando com as próprias mãos; somos insultados e bendizemos, perseguidos e suportamos; somos difamados e consolamos. Até agora nos tornamos como o lixo do mundo, a escória de todos”. Foi necessário viver esta grande mudança, para de fato mudar de vida em Jesus Cristo. Viver o evangelho. Paulo gostava do que fazia, estava totalmente convicto da sua missão, não exigia pagamento ou qualquer tipo de remuneração. Nem sequer quando estava em situações de dificuldade extrema. Mas nem tudo era luz, pois entre os seus membros havia uma competição para saber quem era superior ao outro. Esse era um problema comum nas primeiras comunidades cristãs. A competição por status social estava na ordem do dia e vinha direto de Roma. Essa mentalidade invadia as pequenas comunidades que não conseguia ficar isentas da influência do resto da sociedade. E Paulo chama a sua atenção, apresentando como exemplo o próprio Jesus, e para isso fazia uso de um dos hinos mais bonitos de suas cartas: Fl 2,6-11. O hino mostra como Jesus, sendo Deus, não se apegou a essa condição, mas esvaziou-se a si mesmo, tomou a condição de servo, assemelhou-se aos homens, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Esse exemplo de Jesus desarma qualquer argumento. Não há como não entender isso. Paulo continuava indo às sinagogas para falar de Jesus, mas as comunidades nasciam fora dela, nas casas. Assim, também como Jesus, que gostava de frequentar as casas. A casa dá um contorno próprio à comunidade. A hospitalidade, o afeto, o carinho da casa permitem que as pessoas se sintam à vontade. Nela se conhece como a pessoa é, o que ela faz, como vive, o que come diferentemente do templo, onde se conhece a aparência da pessoa. Na casa as relações não passam necessariamente pelo poder, mas pela fraternidade, pela irmandade e pela filiação. Os primeiros seguidores e seguidoras de Jesus não pertencem ao clero do judaísmo. São pescadores, em sua maioria. Quando a Igreja primitiva começa a criar pequena estrutura, tendo à frente os apóstolos, particularmente Tiago, Pedro e João, são os não pertencentes à hierarquia os principais responsáveis pela divulgação do evangelho. E as comunidades vão dando o contorno à Igreja. O cristianismo, portanto, não vai se formando de dentro para fora, mas de fora para dentro. Os cristãos se dispersaram para os diferentes lugares, cidades e países encontraram culturas e religiosidades distintas e, no contato com elas, formaram as comunidades, cada uma com sua própria experiência. Isto é, a mensagem de Jesus não vem pronta e empacotada, mas vai sendo gestada com base nas culturas aonde os dispersos chegam. Isso obviamente gerou grandes conflitos entre as comunidades nascentes, coordenadas pelo novo discipulado, e a comunidade mãe de Jerusalém, encabeçada pelos apóstolos. O novo, porém, sempre gera conflito. O importante é superá-lo sem romper. Um fato interessante é que, das 30 pessoas que Paulo saúda ou recomenda, 11 são mulheres. Além do já conhecido casal de lideranças, Priscila e Áquila, há entre elas uma mulher de nome Febe. Ela é diaconisa da Igreja de Cencreia e é enviada por Paulo para expor e debater, em seu lugar, o conteúdo da carta com a comunidade. Na lista ainda chama a atenção um casal, Andrônico e Júnia. Eles são apóstolos, precederam Paulo na fé e foram seus companheiros de prisão. Outro aspecto decisivo da ação pastoral de Paulo foi a insistência no projeto alternativo que a comunidade cristã deveria construir. Outra experiência que expressa a diferença entre a comunidade cristã e o resto da sociedade é a Ceia do Senhor. Enquanto, nos banquetes aos ídolos, as pessoas mais importantes ocupavam os primeiros lugares e comiam as melhores comidas, na Ceia do Senhor todos os membros da comunidade participavam sem distinção e preferência. Mesmo os que não tinham com que contribuir, como os mais pobres, os escravos, também sentavam à mesa e partilhavam do alimento. Obviamente isso não era muito fácil. Mas se a Ceia do Senhor é a expressão máxima do projeto da solidariedade e do amor anunciado por Jesus Cristo, os banquetes aos ídolos são a expressão máxima do sistema opressor que matou Jesus Cristo e persegue as comunidades. Por Corinto, além de Paulo, passam outros missionários. Alguns membros da comunidade começam a formar “grupinhos” em torno de um pregador. Os “de Paulo”. Esse grupo parece ser de cristãos fiéis a Paulo, na qualidade de fundador da comunidade, e se identifica com o seu modo de viver o evangelho. Então Paulo aponta uma saída para a superação dos conflitos: escolher Jesus crucificado como fundamento da comunidade. No Crucificado, Deus inverte a lógica do “mundo” e propõe outra: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Lc 10,21). Com isso Paulo deixava claro que se formos semelhantes a Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a Ele pela sua ressureição. E assim seremos destruído para o pecado e vivos para Deus. BIBLIOGRAFIA BORTOLINI, José. Como ler a PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS – superar os conflitos em comunidade. CARREZ, Maurice. Primeira epístola aos Coríntios. São Paulo: Paulus, 1993. CROSSAN, J. D.; REED, J. L. Em busca de Paulo. São Paulo: Paulinas, 2007. FIORENZA, Elisabeth S. As origens cristãs a partir da mulher: uma nova hermenêutica. São Paulo: Paulus, 1992. HORSLEY, Richard A. Paulo e o império: religião e poder na sociedade imperial romana. São Paulo: Paulus, 2004. REIMER, Ivoni Richter. Maria Jesus e Paulo com as mulheres – textos, interpretações e história. WHITE, Ellen G. Atos dos Apóstolos A Igreja que transformou o mundo.

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