A casa da Rua 61

 

Nesta casa, moramos por 4 anos. Eu que cheguei com 6 fiquei até os 10 anos, morando nesta casa tendo como vizinhas do lado esquerdo, minhas primeiras amigas de Goiânia: Telma Isaac Melo e Solange sua prima. Solange faleceu no final do ano passado, em 2023, e Telma continua sendo minha amiga querida, embora já há mais de 40 anos que não nos vemos, mas por sorte nos reencontramos via internet e agora nós nos falamos quase toda semana.

Eu dormia no sofá da sala junto com minha mãe, e no primeiro quarto tinha um beliche onde dormiam minhas irmãs, Didi a mais velha na cama de baixo e Dodô na cama de cima. Minha avó também dormia neste quarto em uma cama de campanha, para quem não sabe o que é, trata-se de uma cama que  se arma quando vai dormir e fecha ao acordar, era muito usada naquele tempo, pois era um tempo quando se chegava sempre hospedes em casa. Pessoas geralmente da mesma família e conhecidos, que eram tratados como parentes que iam e vinham.

Era uma época onde as famílias migravam muito para as cidades a procura de emprego e fixar residência. Então todas as casas tinham esse tipo de cama, para oferecer aos que chegavam. E engraçado era que minha avó sempre se colocou nesse lugar (ou foi colocada) como uma agregada, como um apêndice, embora eu saiba que sem ela ali, minha mãe nunca iria conseguir vencer no trabalho e na vida. Minha avó na verdade era a peça principal da nossa família, mas a simplicidade dela era tão grande que nunca que eu saiba, ela se opôs ao que minha mãe estipulava. E ficava sempre a margem.

No segundo quarto dormiam meus irmãos Geraldo Antônio (Totôe) e o Salviano. Depois do quarto deles é que ficava o banheiro.

 Nesta casinha, era chamada de barracão, porque era pequena e ficava no final do lote, tinha na frente um pé de ata, fruta típica de Goiás. Tinha um tanque de lavar roupas também e uma curiosidade que me lembro é que neste tanque, meu irmão Salviano, foi lavar um cinzeiro que mamãe tinha que era uma panelinha de ferro pendurado por um ferro de bronze muito bonito e que ao lavar minha avó falou pro meu irmão, cuidado para não deixar cair o ferro ai no buraco do cano. E ela olhou para o ferrinho e disse há não passa. Porque ele não percebeu que se o ferro virasse de ponta ele desceria pela encanação, e como ele sempre foi muito desastrado kkkk deixou cair só para ter certeza, e kkkk caiu pelo buraco a melhor peça do cinzeiro da mamãe. Lembrando que naquela época apanhava-se por qualquer coisa. Coitado.

Outra coisa que me lembro era que ali naquela casa eu fiz 7 anos de idade e como presente eu pedi a minha mãe para deixar eu cortar o cabelo.

Meu cabelo era imenso, e vivia em tranças, e meu sonho era ter os cabelos soltos, mas não era permitido. Só ia para a escola com duas tranças e minha cabeça doía muito quando penteava e eu não dava conta de fazer sozinha porque era muito grande. Então pedi esse presente, eu queria ser igual a cantora Elis Regina que estava no auge nesta época (início dos anos 1970) com cabelos curtíssimos e pequeno rabinho na nuca. E assim eu fiz. Ganhei o presente, mamãe me levou em um salão (salão da Dora) e pude cortar o cabelo curtíssimo. Assim eu poderia usá-lo solto como era minha vontade.

Eu estudava no colégio estadual José Honorato, e lá cursei toda a primeira fase da educação básica que naquela época era da primeira a quarta série, minhas notas eram sempre as melhores da sala, e tive alguma dificuldade na terceira série, quando tive algumas notas vermelhas no boletim. Naquela época não tinha essas coisas de bullying ou de constrangimento que tem hoje em dia. Fazia uma coisa errada era apontada na escola toda. Na sala de aula nos sentávamos em fila por nota que tirávamos. Começavam da esquerda para a direita o primeiro lugar, segundo terceiro e assim por diante. Então se sentar se na segunda fila para a frente era uma vergonha para qualquer estudante.

E assim os anos foram se passando com tranquilidade, pelo menos na minha cabecinha de criança. Minha mãe fazia várias viagens para Araguari, para trabalhar nas antigas freguesas de costura, como me era dito, e eu sofria muito cada vez que ela ia, porque nunca sabia quando iria voltar. Eu sofria muito porque não entendia como ela poderia me deixar sendo tão pequena e eu achava que eu caberia até mesmo dentro de uma das malas. Kkkkk e que nunca que eu daria trabalho. Mas essas distâncias serviram para eu ir crescendo e me fortalecendo. Ou pelo menos deveriam servir.

O que sei é que quando me tornei adolescente fui mesmo ficando forte e criando o meu ponto de vista em relação ao mundo, até o dia em que fiz a opção por deixar de lado todas as minhas certezas e convicções e passei a viver conforme o que minha mãe esperava de mim. Mas isso é um outro papo, e falarei sobre isso mais tarde.

 

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