A chegada em Goiânia

 

Hoje eu quero falar de lembranças que tive estes dias, mas decidi que não dar sequência as datas cronológicas, porque isso acaba me atrapalhando as lembranças. E aí eu me perco, e como a maiorias dos idosos, eu esqueço o que queria dizer.

Então conforme eu for me lembrando de histórias e estórias que poderiam ser interessantes e as vezes até engraças, eu vou contando. Quem sabe com sorte, alguns de meus descendentes um dia, possa colocá-las em ordem e publicar estas memórias.

Antes de se instalarem em Goiânia, minha irmã Vera Lucia, tinha ido para Brasília, cidade que estava vivendo sua primeira década; pois foi inaugurada em 21 de abril de 1960 e passou a ser a capital do país.

Segundo documentos da biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do acervo público do Distrito Federal, a ideia mais antiga de mudança da capital, foi do Marquês de Pombal, ainda no século XVIII. O marquês foi secretário de Estado do Reino de Portugal, durante o reinado de D. José I (1750-1777). Ele acreditava que levar a capital para o interior do país melhoraria o comércio e a distribuição de riquezas pelo Brasil.

Mas, pensamos que a ideia que todos os dirigentes políticos concordavam na época era que, uma capital Federal deveria estar protegida de todas as entradas para o Mar, assim assegurava a integridade do país no caso de invasões futuras. E esse pensamento se procede devido as consequências das duas grandes guerras anteriores (e bem recentes na época), passadas por todos os países que ficaram vulneráveis com o acontecido. E embora não se fale muito sobre o assunto, o Brasil, além do tamanho que desperta interesse de muitos, ainda traz muitas riquezas em seu interior.

Mas nada disso conquistou o coração da minha irmã que não gostou nem um pouco daquela cidade.

Vera Lúcia tinha acabado de completar 18 anos e fizera sua primeira viagem sozinha com uma amiga de nome Fátima Melo. Uma pessoa muito alegre e comunicativa que mais tarde veio se tornar minha madrinha de crisma, junto com um de seus irmãos, não sei se o Dercy ou o Zezinho. Mas isso depois a gente lembra.

O fato é que ficando em Brasília por uma semana, minha irmã não gostou nada do lugar enquanto minha madrinha já foi chegando e conquistando clientes que ali ficaram freguesas de seu salão de beleza que estava para ser montado em breve. Neste intervalo de uma semana, veja só quem chega para visitá-las lá na Capital Federal; minha mãe (dona Antoninha), que já não aguentava de saudades da minha irmã que só tinha saído por uma semaninha, kkkkk mas que na cabeça da mamãe, ela estava há muito tempo longe, visto ser sua primeira vez longe de casa. Então tratou de ir buscá-la, ou de pelo menos ir ver o que ela trazia de novidades.

Ao encontrá-las, percebeu que enquanto uma estava totalmente engajada no trabalho, a outra estava pronta para ir embora. Tamanha era sua decepção. Então trataram de pegar o Trem de volta para Araguari-MG, para decidirem juntas o que fazer.

O bom de andar de trem é que ele costumava ser tão lento que dá oportunidade pensar muito na vida e seus caminhos, enquanto ele passa de estação por estação.

Assim quando chegaram a estação de Goiânia, resolveram descer e conhecer aquela cidadezinha muito aconchegante que viam pela janela. E assim fizeram.

Desceram na estação de trem, lembrando que ali, morava uma outra conhecida e sua grande família: os Coimbra, ou seja, o senhor João (ou seria José)e sua esposa Maria Jose Coimbra com seus 10 filhos, ou seriam 9? Não me lembro. Mas isso não é importante. O que importava naquele momento era que se tratava de uma época de pessoas hospitaleiras e que gostavam muito de receber visitas ou mesmo hospedes. (o que era o caso).

E assim fizeram; assim que chegaram e mataram a saudades dos quase parentes (porque era outra coisa que se tinham o costume, toda pessoa mais velha que fosse conterrânea, chamávamos de tio ou tia, e dávamos benção), eram como gostavam de dizer: parentes por consideração. E que até hoje na verdade quando eu os encontro, realmente os considero como “meus”. São laços eternos que criei ao longo do tempo e que gosto de cultivar (mesmo os vendo raríssimas vezes).

Minha mãe e Irmã, então saíram nos dias seguintes à procura de empregos e por sorte acabaram encontrando (nem tanta sorte assim, mas outra hora eu falo sobre isso) e se estabelecendo nesta cidade de Goiânia-Go. Encontraram uma casa na rua 69 no Bairro popular, que tinha vários quantos individuais para alugar e assim o fizeram. Esta época, se usava muito os famosos cortiços, ou seja, várias casinhas pequenas em um mesmo lote. O dono do lote geralmente morava na casa maior. A dona deste cortiço era dona Nika.

O interessante era que os cortiços não tinham banheiro individual, a não ser para o dono da propriedade, e os outros quartos que rodeavam o lote, usavam um banheiro “com chuveiro frio”, que ficava bem no meio do lote, para que cada quarto pudesse ter acesso.

Nosso quarto, para mim parecia bem grande, ou eu que era bem pequena. Não sei. Mas lembro que mamãe como era costureira fez uma cortina bem grande da cor verde abacate, e esta, dividia o quarto da sala que conjugava com a cozinha. Assim ficávamos em dois ambientes e podíamos até tomar banho de bacia, para usar uma água quente, principalmente nos meses de frio. E foi um tempo de temperatura muito abaixo da média de hoje em Goiânia.

Engraçado que não me lembro das refeições nesta casa, como eram feitas, mas nunca passamos fome, graças a Deus.

Passamos alguns meses nesta casa, mas não me lembro quanto tempo. Me lembro que bem pertinho tinha uma pracinha com dois escorregadores e um outro brinquedo de subir e se pendurar, que eu amava. Íamos sempre eu e meu irmão Salviano, pois os outros já estavam maiores e eu também não me lembro o que eles faziam. Minhas memórias de infância estão sempre atreladas ao Salviano. (meu irmão querido que faleceu a um ano atrás no dia 9 de abril de 2023) e faz muita falta pra mim, embora além das brincadeiras tivemos muitas brigas também), coisa de irmãos.

 

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