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A crônica, é um gênero literário que, a despeito de ter sido considerado, durante muito tempo, como um gênero menor, tem merecido hoje a devida atenção por parte da crítica. Como afirma Antônio Cândido, não há que esperar uma “literatura feita de grandes cronistas”, assim como tampouco se “pensaria em atribuir um prêmio nobel a um cronista”. Entretanto, o crítico reconhece que, na crônica, “tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos (...)”. E tudo porque “a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas (...)”, não necessitando, para tal, de nenhum “cenário excelso”, já que a perspectiva do cronista “não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés do chão”.

Nos termos de Cândido, mesmo sendo um gênero sem grandes adjetivações, livre de vôos grandiloquentes, a crônica “pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas”. Assim, é de opinião que a crônica pode dizer coisas sérias sobre inúmeros aspectos da vida. Por exemplo, na apresentação de uma simples conversa fiada. Não é à toa que o crítico, no exato momento em que fala que a crônica perece mesmo um “gênero menor”, sai-se com essa: “‘Graças a Deus’ – seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós”.

Entretanto, parece que alguns não compreenderam a mensagem de Cândido. É o caso dos organizadores de História em cousas miúdas, uma coletânea de textos produzidos, em sua maioria, por historiadores sociais da cultura da UNICAMP. Não compreenderam, por exemplo, que o crítico, ao se referir à crônica como um “gênero menor”, não é para desqualificá-la literariamente e sim para valorizá-la. Inúmeros trechos no texto de Cândido indicam essa valorização. Sendo “amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais simples e também nas suas formas mais fantásticas”, ainda que tenha nascido despretensiosa e sem a pretensão de durar, a crônica, em íntimo convívio com a palavra, cada vez mais leve, cada vez mais poética, já não condiz com o viés argumentativo da crítica política dos primeiros tempos no Brasil, quando de seu surgimento com a série “Ao correr da pena”, de José de Alencar

 

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