“globalização”.

OS CONTRASTES DA MUNDIALIZAÇÃO
A economia como instrumento de poder em um sistema internacional excludente
(baseado em artigo de: João Sette Whitaker Ferreira)

Conforme as enormes mudanças pelas quais passa o mundo hoje, percebo que a cidade, e mais precisamente as grandes metrópoles, eram o espaços geográficos privilegiados para os efeitos do que se acostumou chamar de “globalização”. Tal termo surgiu na mídia e nas discussões teóricas, no início dos anos 90, como uma explicação quase indiscutível de todas as transformações de ordem tecnológica, econômica, política e cultural que começavam então a tornar-se cada vez mais visíveis.
Assim, ficou claro que se quiséssemos entender, como urbanista, a dinâmica das cidades contemporâneas, e mais especialmente das metrópoles brasileiras, deveríamos antes de mais nada tentar responder à pergunta: o que é a “globalização”, e como o Brasil se insere nesse processo?. Entendi também que o fenômeno da globalização era (e ainda é)
extremamente amplo, de caráter transdisciplinar. Em outras palavras, percebi que a abordagem do urbanismo não seria suficiente para entender a magnitude do processo, assim como não seria suficiente uma abordagem exclusivamente econômica, ou ainda sociológica. Mais do que isso, observei que a globalização, mesmo se entendida comumente como um fenômeno essencialmente econômico, estava interferindo diretamente nas relações intra e inter-Estados, e mais especialmente na reorganização do sistema das Relações Internacionais. Essas foram as razões que me levaram ao campo da Ciência Política, no intuito de tentar entender o significado do fenômeno da globalização, com base numa leitura a mais ampla possível, que incorporasse a discussão política sobre o papel dos Estados nacionais nesse processo.

DA GLOBALIZAÇÃO MERCANTILISTA AOS DIAS DE HOJE: O QUE MUDOU ?
A palavra globalização está na moda. Nos jornais, na televisão, é presença constante. Há seminários sobre globalização e educação, globalização e cultura, até artigos sobre globalização e culinária. Temos a impressão de que qualquer pessoa saberá dizer qual o significado de uma palavra tão familiar. Seria como querer saber o que é hamburger ou
lap-top. Palavras típicas de uma nova modernidade, tão familiares para um paulistano quanto para um novaiorquino. Resta que nem sempre palavras difundidas são palavras assimiladas. E parece que globalização tem mil significados. Uma prova disso?
Tentemos responder, em uma frase, à pergunta: o que é globalização? Com base na dificuldade de tal resposta, tentaremos definir, mesmo que seja no âmbito restrito deste texto, o que significa globalização.
Se definirmos como globalização a ampliação das relações econômicas para além das fronteiras nacionais e até continentais, devemos então admitir que esse processo já tem mais de trezentos anos. Como lembra Magnoli (1995), desde a expansão colonial européia e o conseqüente domínio das potências mercantilistas sobre os principais oceanos do globo terrestre, a partir do século XVI, pode-se considerar que o ser humano tem certo domínio da escala global.
“Se se entende por globalização o processo pelo qual são criadas condições materiais e econômicas para a mundialização do espaço de fluxos de capital e de mercadorias, então trata-se de um movimento que está em marcha desde que as nações européias dos séculos XVI e XVII romperam o isolamento das histórias regionais”(Magnoli, 1995;XX)
Autores como Braudel, Wallerstein ou Amin consideram que desde essa época começou a constituir-se o que chamaram de economia-mundo, ou sistema-mundo. Mesmo para os que discordam dessa magnitude global associada ao mercantilismo, podemos lembrar que a fase imperialista do capitalismo industrial, que teve seu auge nas décadas de 50 a 70 deste século, caracterizou-se essencialmente por seu caráter globalizante, representado justamente pelas novas empresas multinacionais. Se a globalização não é nova, por que, então, todos falam dela hoje como um fenômeno recente ?
O que há de diferente hoje é que em função do aceleradissimo avanço tecnológico da era da informática, a humanidade logrou dominar meios de comunicação de massa tão abrangentes que o processo que se vive é apreendido simultaneamente por qualquer habitante do planeta. Para ficarmos apenas no exemplo da expansão imperialista do sistema de produção capitalista, podemos verificar que tal processo se deu em uma época - as décadas de 50 a 70 - em que os meios de comunicação, mesmo que bastante avançados, não eram capazes de inundar o mundo, cotidianamente, com informações instantâneas colhidas em qualquer canto do planeta. Se os meios de comunicação de massa podiam gerar informações de alcance global e simultâneo apenas em ocasiões extraordinárias e às custas de todo um aparato tecnológico especial, como quando da chegada do astronauta Amstrong à Lua em julho de 1969, hoje isso pode acontecer cotidianamente, como para anunciar o falecimento da princesa Diana, para mostrar um campeonato esportivo ou para que vejamos ao vivo a Guerra do Golfo. Hoje, o mundo soube na mesma hora quando um jovem yuppie quebrou o banco inglês Barings na bolsa de Hong-Kong, ou quando um carro italiano produzido no Brasil começa a ser vendido no Salão do Automóvel de Frankfurt. E para cada um desses acontecimentos, o telespectador fica sabendo que eles se devem a essa tal de globalização. Pode-se dizer que, mais do que propriamente novo, a globalização atual é um fenômeno que se caracteriza por ser conhecido por todos.
É importante ressaltar que a visão de Braudel é de um mundo composto por um conjunto de civilizações diferentes, regidas por valores específicos (pode-se ver a esse respeito Ortiz, 1994;17). Para ele como para outros pensadores, o sistema-mundo diz respeito especificamente ao sistema econômico que se expandiu com o modo de produção capitalista, iniciando-se já no mercantilismo e intensificando-se com a expansão imperialista do sistema, e sua conseqüente divisão internacional do trabalho. Mas mesmo referindo-se ao sistema capitalista – e portanto não abrangendo até os anos recentes regiões importantes do planeta-, esse conceito de sistema-mundo, ou economia-mundo segundo cada autor, é marcado pelo seu caráter supranacional, isto é, global.
Esse caráter global do imperialismo é ainda mais perceptível para nós brasileiros, já que o processo de industrialização do país teve seu momento de intensa internacionalização, principalmente no Plano de Metas do presidente Kubitshek, quando da abertura da economia nacional não só para financiamentos externos como para a vinda e instalação no país de inúmeras multinacionais. O setor automobilístico talvez seja o melhor exemplo desse processo.
A importância da mídia é significativa no entendimento da nova globalização.
O que foi dito acima não nos traz, entretanto nenhuma resposta a respeito do que se entende hoje por globalização. Apenas ressalta que seu diferencial talvez esteja no fato de que pela primeira vez um fenômeno é identificado e difundido simultaneamente para todo mundo, dando-lhe uma universalidade nunca vista anteriormente. Para além desse aspecto, o que certamente diferencia o atual processo de globalização daqueles vistos anteriormente é sua extraordinária magnitude. Pela primeira vez observa-se um fenômeno que atinge simultaneamente e de forma avassaladora setores fundamentais para o funcionamento do mundo capitalista. A atual globalização, fruto do avanço do conhecimento humano rumo ao mundo da informática, gerou profundas transformações nos campos econômico, político e cultural. É essencialmente no âmbito das transformações econômicas, entretanto, que a globalização é tratada pela maioria dos autores que abordam o tema. Assim, antes de propormos uma caracterização mais aprofundada das transformações de que falamos, procuramos saber qual a definição de globalização na visão desses autores. Vejamos posteriormente algumas abordagens significativas sobre a questão.
Até breve.
Lázara

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