O Peregrino e o Convertido - segundo Hervieu Leger


O PEREGRINO E O CONVERTIDO

 

D.Hervieu Leger – é um dos nomes em destaque sobre a pesquisa do fenômeno religioso na modernidade, a memória e tradição religiosa.

A autora faz indagações sobre a desconstrução dos sistemas tradicionais de crença e singular mobilidade religiosa contemporânea.

Esta obra foi publicada em 1999 e trata-se de uma reflexão sobre os processos de construção e transmissão esclarecendo a dinâmica que anima a continuidade crente no final do séc.XX, ou seja, o processo de recomposição do imaginário religioso, num tempo marcado pela crise das instituições tradicionais e de sua gestão da memória autorizada.

O inicio do sec.XXI, vem “marcado pela difusão do crer individualista pela disjunção das crenças e das pertenças confessionais e pela diversificação das trajetórias percorridas por crentes passeadores.

Por um lado há a desregulação institucional da religiosidade e do outro lado a disseminação de novas formas de expressão religiosa de uma religiosidade flutuante ou de elaborações sincréticas inéditas. O livro divide-se em 6 capitulos.

No 1º- Religião despedaçada,  traz uma reflexão sobre a modernidade religiosa – buscando desenvolver a questão do paradoxo religioso nas sociedades seculares, em especial a crise de credibilidade dos sistemas religiosos e da emergência crescente de novas formas de crença.

As sociedades modernas não podem ser encaixadas numa perspectiva restrita de secularização, marcada pela idéia da privação social e cultural da religião.

O que caracteriza o tempo atual não é a mera indiferença com respeito a crença, mas a perda de sua regulamentação por parte das instituições tradicionais produtora de sentido.

O que ocorre é uma “bricolagem de crenças”, uma individualização e liberdade na dinâmica de construção dos sistemas de fé. “As crenças se disseminam”. Conformam-se cada vez menos aos modelos estabelecidos. Comandam cada vez menos as práticas controladas pelas instituições. Torna-se comum a presença de crentes que se afirmam sem a adesão precisa a uma instituição particular. E esta proliferação de crenças que marca o cenário contemporâneo acaba por refletir a necessidade sentida pelos indivíduos de recomporem o universo de sentido que eles menos sentem escapar de suas mãos numa modernidade intransparente.

O cap. 2 – Fim das identidades religiosas herdadas – a autora trabalha como acontece a transmissão das identidades religiosas entre as gerações em um contexto nebuloso.

Com base na reflexão de Halbwachs, Hervieu Leger aponta a importância da transmissão regular das instituições e valores como elemento fundamental para a continuidade e sobrevivência da sociedade. É no movimento de transição de uma geração para outra que a religião se firma no tempo. O que acontece na modernidade é um fenômeno complexo de “crise de transmissão” dessa “menos autorizada” que é a tradição. As sociedades modernas tendem a ser cada vez menos sociedade de memória, uma vez governadas pelo paradigma da imediatez.

Essa perda ou enfraquecimento de identidades herdadas vem acontecendo de forma crescente no âmbito da transmissão religiosa, os indivíduos constroem sua própria identidade sócio – religiosa a partir dos diversos recursos simbólicos colocados à sua disposição.

Tende a ocorrer uma nova escolha religiosa, com base nos recursos que os indivíduos vão encontrando pelo caminho ou se engrossa a fila dos que se definem como sem religião.

O que caracteriza a religiosidade das sociedades modernas é a dinâmica do movimento, mobilidade e dispersão de crenças.

nova dinâmica da mobilidade das pertenças, com a desterritorialização das comunidades com desregulação dos procedimentos da transmissão religiosa.

Substituindo o praticante, a modernidade favorece a emergência de 2 novas figuras: o peregrino e oconvertido.

No cap. 3 – movimento – Concentrando na figura do Peregrino – para a autora esse personagem enquadra-se na especificidade do religioso em movimento, sob qa influência dos percursos individuais (trajetórias de identificação religiosa e uma sociabilidade religiosa em plena expansão sob o signo da mobilidade e da associação temporária.

Seria uma mobilidade e confessionalidade fluida como a JMJ, tomando por exemplo a participação de 1997. Uma dinâmica de agregação e dispersão simbólica da universalidade católica.

Cap. 4 – O Convertido – expressa uma identidade religiosa no contexto de mobiludade da modernidade e é marcada pela escolha individual.

Desdobra-se em 3 modalidades:

1-    O individuo que mudaa de religião.

2-     O que se integra a uma tradição de forma inaugural.

3-     O que se re-afilia à mesma tradição religiosa.

Nesses diversos casos, a conversão é vivida como imersão num “1regime de intensidade religiosa”.

A emergência dessa nova figura é a expressão da desregulação institucional da modernidade, onde a identidade religiosa se firma como uma escolha.

Segundo a autora, em todas as formas de conversão, cristaliza-se um processo de individualização, que favorece o caráter que se tornou opcional de identificação religiosa e o desejo de uma vida reorganizada. Como um protesto contra a desordem do mundo.

Percebe-se que a insegurança e o pluralismo, provocam a reativação de identidades confe3xxionais e o desejo de inserção num regime intensivo de vida religiosa.

Cap. 5 – Comunidades sob o regime de individualismo religioso. Um claro exemplo vem na “nebulosa mística esotérica”, trata-se de uma religiosidade centrada no individuo e sua realização pessoal. Essa individualização compagina-se com o individualismo no campo religioso moderno ou seja é o “crer sem pertencer”; é um dos traços do tempo atual e presentifica-se na lógica de uma “bricolagem de fé”.

Há uma decomposição, sem recomposição ou seja, a afirmação de um regime subjetivo de verdade que dissolve toda forma de comunalisação religiosa.

Cap.6 – Instituições em crise e laicidade em pane – A Europa foi considerada em 1946 uma República laica. De lá para cá, vem havendo matrizes diferenciadas de uma laicização militante e comprometida, para uma laicidade de mediação.

Os embates com o Islâ (2ª religião na França) e as seitas vieram exigir um novo posicionamento da laicização.

Hervieu Leger vai na linha mediadora e acredita em uma decisiva atuação do estado na gestão e racionalização do debate em torno da delimitação do exercício de liberdade religiosa. O diálogo ganha significado especial e busca uma nova dinâmica entre as religiões.

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