A ESTRUTURA DOS MITOS (Eliade)

A ESTRUTURA DOS MITOS (Eliade) No século XIX o mito passa a ser aceito pelos eruditos como era compreendida pela sociedades arcaicas, onde designava uma história verdadeira e preciosa pelo seu caráter sagrado. Hoje a palavra mito é empregada tanto no sentido de ficção ou ilusão. Xenófanes 565-470, foi o primeiro a criticar e rejeitar as expressões mitológicas. Os gregos foram despojando o mythos de todo valor religioso e metafísico. Em contra posição ao logos. Mythos se torna tudo que não pose existir realmente. Todos os atos e crenças são explicados pelo mito da destruição do mundo, seguido de uma nova criação, chamada por neste período por Eliade de nova era. Período pelo qual até o mytho orgiástico tinha seu significado, pois neste período todas as mulheres pertencerão a todos os homens. Embora todas as grandes religiões do mediterrâneo e asiáticos possuem mitologia, a maioria dos mitos gregos foi recontada e consequentemente modificada, articulada e sistematizada por Hesíodo e Homero. No Oriente Próximo e India, foram foram reinterpretadas elaboradas por seus teólogos e ritualistas. Isso não quer dizer que tenham perdido sua importância mítica ou que não possuem literatura ou ainda que as tradições mitológicas das sociedades arcaicas, não tenham sido remanipuladas por sacerdotes e bardos. Segundo Eliade, é difícil encontrar para o mito uma definição que fosse aceita pelos eruditos e acessível aos demais. Segundo ele, o mito conta uma coisa ou melhor um acontecimento ocorrido no tempo que ele chama de primordial, o tempo fabuloso do princípio. É a narrativa de uma criação. De que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que começou a ser, do que realmente ocorreu ou se manifestou plenamente. Os personagens do mito são entes sobrenaturais, e são conhecidos sobretudo pelos primórdios onde fizeram desvendar a sacralidade. Por fim, segundo Eliade os mitos descrevem as dramáticas aparições do sagrado no mundo. Visto serem elas que fundamentam o mundo e o converte no que é hoje. E são devido a elas que o homem é o que é hoje, um ser mortal cultural e sexuado. O mito é considerado uma história sagrada, verdadeira, por sempre se referir a realidades. O mito cosmogônico é verdadeiro porque a existência do mundo esta aí para prova-lo. Assim como o mito da origem da morte, porque a mortalidade do homem vem para provar o fato. Como foi transmitido no início da criação, devemos nos sacrificar, como fizeram nossos ancestrais na antiguidade, como fizeram os deuses, antes deles. A principal função do mito, está em revelar modelos exemplares de todos os ritos e atividades significativas humana, tanto a alimentação ou o casamento, quanto o trabalho e educação e arte e a sabedoria. São concepções do homem para a compreensão do mito. Nas sociedades em que o mito está vivo, os indígenas distinguem com facilidade tanto nas histórias verdadeiras, quanto nas falsa fábulas ou contos. Nas histórias verdadeiras ficamos defronte as histórias do sagrado e do sobrenatural; enquanto que as falsas, ao contrário, são de um conteúdo profano. O autor da o exemplo do coiote como sendo uma figura extremamente mitológica em vários lugares, enquanto que nos Estados Unidos é extremamente popular, aparecendo como “trapaceiro, velhaco, embusteiro e tratante consumado” (p.14) Nas tribos de Togo, os mitos são considerados como verdadeiros, ou reais; sendo assim não podem ser indiferentemente narrados, ou até mesmo recitado por mulheres e crianças, os quais são considerados como não iniciados. Os mais velhos tem esse poder, de comunicar, de instruir os neófitos (àqueles que acabara de se converter), que estão isolados nas matas no período de iniciação, sobre mitos referente à cosmogonia. (criação ou origem do universo). E assim, as “histórias falsas” poderão ser contadas em qualquer momento e em qualquer parte, embora, só possam ser recitados em lapso de tempo sagrado, geralmente no outono ou inverno e somente à noite. E a recitação é comparada a um poderoso sortilégio (feitiço, bruxaria, magia); pois assim ajudará a obter vantagens de todo tipo, em especial na caça e na guerra. Antes de começar a recitação, um lugar é preparado e nele, pulverizado um pouco de farinha de cevada torrada; há quem diga que nestes momentos de recitação poderiam até provocar a presença real do herói. Em ambas as categorias de histórias (verdadeiras ou falsas), percebemos relatos de eventos uns com Deuses e Entes sobrenaturais e o outro com heróis ou animais miraculosos; todos eles pertencem ao mundo quotidiano, mesmo que de fabulas e contos, e referem se a mudanças de mundo que mesmo não sendo na totalidade, as peculiaridades da condição humana permanecem as mesmas. Portanto o homem tal qual é hoje, pertence ao resultado direto daqueles momentos míticos. Se o homem existe é porque entes sobrenaturais desenvolveram uma atitude criadora no “principio”. (p.16) O mito é uma questão da mais alta importância, enquanto que as fabulas e os contos, não o são, pois este últimos não ensinam histórias primordiais que venham a contribuir para a existência humana como o seu próprio existir no cosmo. Viver os mitos significa viver uma experiência verdadeiramente religiosa, que se distinguem da experiência puramente ligada a vida quotidiana. O indivíduo evoca os a presença do sobrenatural e tona-se contemporâneo dele; passando a viver no tempo “primordial” (primeiro). (p.22) Com tudo isso Eliade diz que os mitos revelam que o mundo e o homem em sua vida, tem origem sobrenaturais; e que esta história é exemplar, significativa e preciosa. E que o valor primeiro do mito esta confirmado pelos rituais. Segundo Eliade “esse mundo transcendente dos Deuses, dos heróis e dos ancestrais míticos...”(p.124) torna-se acessível porque o homem é arcaico e não aceita a irreversibilidade do tempo, dando lhe a segurança de que ele é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar o seu mundo. O homem arcaico parece repetir indefinidamente o mesmo gesto arquetípico (padrão); ele conquista o mundo infatigavelmente, organiza-o, transforma a paisagem natural em meio a cultura graças ao modelo exemplar revelado pelo mito cosmogônico, assim o homem torna-se por sua vez criador. Podemos dizer então que os mitos incitam o homem a criar, abrindo novas perspectivas para seu espírito inventivo. Quando o mito é vivente, o homem é aberto, embora cifrado e misterioso. Mais para desvenda-lo é só compreender a linguagem e decifrar os símbolos. Através dos mitos e dos símbolos da lua, o homem capta a misteriosa solidariedade existente entre temporalidade, fertilidade, chuva, vegetação e assim por diante. O mundo deixa de ser uma massa opaca de objetos arbitrariamente reunidos, mas um cosmo vivente, articulado e significativo. O mundo se revela enquanto linguagem (símbolo), falando ao homem através de seu próprio modo de ser, de suas estruturas e de seus ritmos. E falando mostra o real significado, deixa de ser desconhecido, um objeto opaco.

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