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OSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
(...)
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Quantas e quantas vezes não nos sentimos "Josés"? Tomados pôr incertezas e medo. Quando Drummond escreveu este poema, o mundo estava em plena Segunda Guerra Mundial e o Brasil entrando na ditadura, com o Estado Novo de Getúlio Vargas. Incrível como, mesmo em um contexto histórico diferente, este poema com uma simples pergunta nos leva a pensar em gritos que ainda são sufocados pela indiferença.

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