O bom de falar da gente é que geralmente as autobiografias são
muito bem-humoradas, isso acaba por facilitar a escrita, visto que a mesma,
além de trazer doces lembranças, ainda faz com que A gente reveja alguns pontos
com certo distanciamento. E isso leva ao bom humor ao reproduzir.
E como disse José Simão(1943) “Aí eu peguei e nasci!”. Era o ano de 1961. Uma
criança alegre, embora carente da presença masculina adulta, e com isso ficava
muito feliz ao conhecer os amigos da minha mãe que vinham em casa nos visitar. Criança é sempre feliz por
ser inocente e não perceber os problemas da vida adulta, ou mesmo as
configurações que permeiam as questões familiares, e simplesmente vivem
envoltas as suas brincadeiras, imaginações, criações das quais iam fazendo
parte daquele serzinho atenta ao aprendizado constante.
Penso que o aprendizado faz parte da individualidade de cada um
de nós. Uns buscam mais, tem maior ansiedade pelo saber e pelas descobertas, e
outros ao contrário, parecem que nascem conformados com aquilo que a vida vai
lhe proporcionando, sem fazer nenhum plano.
Mas, não sei se é errado. Porque talvez não seja falta de
motivação pela vida, e sim, confiança de tudo que deve ser, será!
Bom, mas, vamos pensar nisso em um outro momento. Agora acho
interessante passarmos pelo quadro panorâmico que se alinhavava nesta época.
No mundo 1961 foi o ano em que os ânimos ficaram acirrados na Europa,
em especial entre Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental, e por isso foi construído
o Muro de Berlim no meio da cidade de Berlim, transformando-a em Ocidental e
Oriental. Essa construção tinha como proposta de isolar completamente os
orientais, para que não fossem contaminados com as ideias liberais e econômicas
que dominava os ocidentais. Esse muro teve essa função por 28 anos. E além de
outras coisas, separou famílias que não mais poderiam conviver da mesma forma.
No Brasil era um momento de crise política, que levou o então
Presidente da República Jânio Quadros a renunciar ao cargo. Na verdade, alguns
autores trabalham com a hipótese de que Jânio quis dar um golpe anunciando sua renúncia,
achando que seria aclamado pelo povo, mas o tiro acabou saindo pela culatra.
Segundo o jornalista Geneton Moraes Neto(2017), o neto de Jânio, quando da
passagem de seu avô, nos últimos momentos de vida, Jânio em diálogo com o neto contou:
“A minha renúncia era pra ter sido uma articulação. Eu nunca
imaginei que ela seria de fato aceita. Tudo foi muito bem planejado,
organizado, por exemplo, eu mandei o vice-presidente Goulart em uma visita oficial à China, o lugar
mais longe possível. Assim ele não estaria no Brasil para assumir no meu lugar
ou fazer articulações políticas. Eu acreditava que não haveria ninguém para
assumir a presidência. Eu pensei que os militares, os governadores e
principalmente o povo nunca aceitariam a minha renúncia. Pensei que iriam
exigir que eu ficasse no poder, porque Jango era inaceitável para a elite”.
Jânio também achava
impossível que João Goulat assumisse, pois, toda elite e o povo em geral,
sempre implorava para que ele ficasse. Então a renúncia faria com que ele
voltasse nos braços do povo. Era o Dia do Soldado e assim Jânio achava que
também sensibilizaria os militares, e ganharia o apoio deles. Jânio fazia
conjecturas imaginado o povo saindo às ruas e que ele voltaria à Brasília em
glórias. Mas logo ao renunciar e pedir um voto de segurança, este lhe foi
negado o país acabou pagando um preço muito alto. Deu tudo errado e a renúncia
acabou virando o maior fracasso de Jânio.
Mas na verdade sua política
foi desastrosa, ele iniciou uma devassa moralizadora nos cargos administrativos
e denunciou abertamente políticos dos outros partidos e não fazia nenhuma
questão de manter a cordialidade nem com seu próprio partido. E assim foi se
isolando e ficando sem apoio parlamentar. Seu último ato foi a imposição da
política externa independente, passando a apoiar uma espécie de terceira via
para as relações exteriores do Brasil. Redefiniu as relações diplomáticas com
os Estados Unidos e retomou os contatos com União Soviética, que estavam
suspensos desde 1947. Tudo isso foi levando o a renúncia, mas confiante de que estava
certo e que voltaria nos braços do povo.
Foi quando declarou sua
renúncia em 25 de agosto de 1961. Segundo a Constituição de 1946, o sucessor ao
cargo de presidente seria o vice eleito, portanto João Goular, do PTB.
A posse de Jango foi
extremamente atribulada pela oposição principalmente dos militares. Isso
agravou a crise política, dividindo opiniões entre a favor e contra este
governo. Leonel Brizola se posicionou ao lado de Jango e mobilizou militares e
cidadãos a se voluntariarem na formação de um corpo civil. Por muito pouco teve
se início a uma guerra civil.
Para não chegar a tanto, foi
proposto uma adoção do parlamentarismo. A ideia era a de permitir a posse de
Jango, mas neste sistema parlamentarista, ou seja, seu poder seria reduzido a
favor do primeiro-ministro. Mas essa solução não agradou embora tenha sido
adotada por um tempo. Na verdade, esteve por 14 meses e só foi abandonado após
a consulta popular que decidiu pelo retorno do presidencialismo em janeiro de
1963.
Nesses dois anos que se
passaram, minha vida ia me transformando e me trazendo aprendizados. Agora, eu
já podia andar, falar e conhecer aqueles que me rodeavam.
Fui a 5ª filha de uma mulher
forte Antônia Coelho, que só com a ajuda de sua mãe Alzira (viúva ainda jovem),
cuidava de todos nós. Isso porque Dona Antoninha como era conhecida, não teve
muita sorte no amor. E teve dois casamentos. Ficou viúva do primeiro e antes de
casar-se com meu pai, o Sr. Lourival de Freitas, mamãe teve um filho Salviano
Coelho, nascido de um outro cidadão, que também a abandonou.
Viram que eu disse também,
não é. Exatamente. Meu pai também a deixou quando eu completava exatos 3 meses
de nascida. Motivo? Não sei ao certo. Talvez por sorte de minha mãe, ela não
precisou sustentar ninguém mais que seus próprios filhos. Aliás, sorte que eu
também tive. Como veremos mais tarde.
Em 31 de janeiro do ano de
1961, assumiu o governo de Minas Gerais José de Magalhães Pinto, um advogado,
economista, banqueiro e político com atuação no Congresso Nacional e participou
ativamente da conspiração que precedeu o golpe militar no Brasil de 1964. Ele
era um político de extrema direita e opositor às políticas de Getúlio Vargas.
Seu lema era uma frase atribuída ao orador irlandês Jojn Phipot Curran “o preço
da liberdade é a eterna vigilância”. Com isso as pressões aos cidadãos comuns
começavam a ficar cada vez mais difíceis. E assim minha mãe no auge de sua vida,
contava agora com 40 anos de idade, sozinha com 5 filhos e uma mãe que dependia
dela ao mesmo tempo que a ajudava a cuidar destas crianças, para que Antoninha
pudesse trabalhar.
Com todas estas pressões
externas e a eminência de anos de chumbo, Dona Antoninha se enche coragem, e
vem pra Goiás, trazendo apenas a filha mais velha Vera Lúcia, na qual já adolescente
em idade de trabalhar junto com a mãe na alta costura. Se instalam em Goiânia e
em casa de uma conhecida e antiga conterrânea. Ficam por ali por uns dois meses
passando grandes dificuldades, muitas vezes sem ter o que comer, mais saindo todas
as manhãs para procurar clientes que pudessem acolhe-las e pagar pelos serviços
de costureira. Era um tempo em que as famílias contratavam costureiras para
fazer as roupas da família inteira, então as vezes ficavam em uma casa uma
semana, ou até um mês, conforme o tamanho das famílias.
E assim iam ganhando um
dinheirinho para trazer o resto da família para Goiânia.
*Vou parar por aqui, e quem tiver interesse em continuar essa
leitura, em breve trarei mais um pouquinho de mim.
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