Sobre as Origens da República (Segundo Emilia Viotte da Costa)





* Versão dos Contemporâneos:

Para os contemporâneos ao fato, o calor da hora trás uma versão superficial e deformada dos fatos, porque este, se empolga e coloca suas paixões e sentimentos a frente de sua capacidade de análise.

Uma regra, seria submeter a documentação a uma Crítica rigorosa (embora nem sempre é cumprida).

A maior dificuldade é quando se trata de situações que dão margem a se colocar em posições contrarias, como em processos Revolucionários, Reformas políticas, sociais ou econômicas. Dificultando e complicando o trabalho do historiador. O problema não é optar por esta ou aquela, é preciso ter compromisso e buscar documentos mais objetivos. Para que se possa entender um golpe de Estado ou Revolução é preciso ter formações econômicas, sociais e instrucionais. Não basta conhecer os homens e apenas saber suas opiniões e participações, é preciso buscar além da aparência, as razões de ordem estrutural que escapam a consciência dos contemporâneos.

* A República vista pelos republicanos:

Neste caso, são traçados duas linhas de interpretações: Os vencedores e os Vencidos, ou seja, Republicanos e Monarquistas.

Os primeiros afirmam que a República sempre foi uma aspiração nacional. Eles criticam a centralização excessiva do governo monárquico.

Emília Viotte mostra que os males do Império advinham menos do Imperador do que da instituição de que ele foi ao mesmo tempo o representante. Pois o poder do imperador é incontestável, enquanto que os homens públicos eram instrumentos de fácil manejo. Sendo assim o Imperador fez o governo que quis e os manteve o tempo que bem entendeu.

Ao analisar a origem da idéia republicana, afirma que a monarquia brasileira estava isolada na América e não tinha bases no Brasil. Atribui aos republicanos o papel principal na proclamação da República e aos militares um papel não só secundário, como acidental.

Entre os fatores da Proclamação da República, vista pelos republicanos, temos:

- transição para um regime de trabalho agrícola e industrial;

- propaganda em prol da República promovida por meio de livros, jornais e revistas;

- corrupção política e a deficiente administração do Império.

Quanto a questão militar, ao assumir a liderança do movimento, o Exército foi veículo das aspirações populares: o povo selecionado no Exército foi o grande operário do movimento. Acusa o Imperador de ter governado só para dominar e dividir governar através de golpes de Estado, com o intuito evidente de anular os partidos.

Os Republicanos consideravam a Monarquia o regime de corrupção e de arbítrio, de violência e de injustiças sobretudo do governo do Poder Pessoal, e alheio aos interesses do povo.

Ao tentar a reconstituição da história do período exagera o papel da Coroa, atribuindo-lhe uma atuação muito maior do que ela poderia de fato ter, por todos os males, como se a vontade de um só homem pudesse explicar o processo histórico.

Encontra-se no estudo de Felício Buarque, a maioria das explicações que os historiadores deram para a proclamação da República. A sua versão de um republicano com a qual evidentemente não concordavam os monarquistas.

* Versão dos Monarquistas

Logo após a proclamação da república, a voz dos monarquistas foi abalada pela euforia dos republicanos. Mas a versão dos monarquistas não desapareceu. Segundo eles a proclamação da República não passava de um levante militar, alheio à vontade do povo.

E o regime monárquico dera ao país setenta anos de paz interna e externa, garantindo a unidade nacional, o progresso, a liberdade e o prestígio internacional. Segundo eles o Império não foi a ruína, e sim a conservação e o progresso. Pois durante meio século se manteve íntegro, tranqüilo, e unido ao território colonial. Fizeram de uma nação atrasada e pouco populosa, uma grande e forte nacionalidade, uma verdadeira potência sul americana, considerada e respeitada em todo o mundo.

Esta foi a opinião tanto de monarquistas, quanto de “desiludidos da República”, que na ocasião, eram muitos. E Idealizavam o passado e com olhos pessimistas observavam o presente que lhe afigurava uma época de desmandos e confusão.

* Um testemunho menos comprometido

Ao lado dessas interpretações, surgiram outras menos comprometidas e por isso menos serenas. No livro: Cartas ao Brasil, de Max Leclerc; o francês registra que no Brasil, a revolução terminou e ninguém discute a seu respeito, e um presidente foi feito a força. Deodoro não era contra a Monarquia, só queria derrubar um ministério hostil (Ouro Preto). Falara-se de cumplicidade dos fazendeiros, mas a verdadeira cumplicidade era a do silêncio e da força de inércia. Ele atribui a queda da monarquia ao fato de o poder estar concentrado nas mãos do imperador que envelhecera perdendo o controle da situação, Mas se refere as causa como meramente circunstanciais.

Alguns historiadores procuravam se posicionar de acordo com ambas as versões, ora dando crédito aos republicanos, ora aos monarquistas, tentando conciliar as contradições.

* Os conflitos dos primeiros anos da República e uma nova perspectiva historiográfica.

Os representantes do setor progressista da lavoura cafeeira, e representantes dos profissionais liberais e militares (estes últimos sempre eram chamados a fim de por ordem aos movimentos), nem sempre tinham as mesmas aspirações, sendo assim as divergências que os dividiam repercutiam em conflitos no Parlamento. Os descontentamentos se multiplicavam sendo impossível manter a paz, com tanta instabilidade e busca pela liderança. Este fato causou aos monarquistas uma esperança de restauração.

Neste momento estávamos vivendo a “política dos governadores”. Um agitado período também chamado de “Rep. Da Espada”. Onde o paulista Prudente de Moraes, sucedido por outro paulista Campos Salles, que conseguiu uma relativa calma no cenário político. Entregando os Estado a o domínio das oligarquias locais, concedendo autonomia plena dos assuntos regionais. As oligarquias imperavam, mas o seu domínio não se exercia sem resistência dos grupos minoritários. As oligarquias que dominavam nos vários Estados lutavam entre si no plano federal, onde freqüentemente se opunham à oligarquia paulista.

Em São Paulo, houve uma divisão desde os primeiros anos da república, por oposição a política dos governadores, assim como o estreitamento das relações com os Estados Unidos, no tratado de reciprocidade comercial com o Brasil, publicado em 1891.

Em 1994, Eduardo Prado fazia publicar “A Ilusão Americana”, uma espécie de contestação aos argumentos dos que pleiteavam uma aproximação maior com os Estados Unidos. (obra que comentava as repercussões daquele tratado no Brasil, onde muitas firmas tinham sido prejudicadas com a medida).

O governo americano isentava o café e certos tipos de açúcar de direitos de importação, mas recebia em troca isenção de direitos de importação, sobre as farinhas de trigo e vários outros produtos americanos, obtendo ainda para os demais produtos uma redução de 25% nas tarifas alfandegárias. Esta política beneficiava especificamente os EUA em detrimento das empresas Nacionais.

O governo pressionado por uns e outros, desenvolvia uma política hesitante e instável. Protecionista e anti protecionistas opunham-se e cada um se julga mais prejudicado que o outro dentro desta política econômica.

* Teorias civilistas e teorias militaristas

Muitas delas repetiam que o motivo da proclamação da Republica, foi a deficiência do regime anterior. Divergiam apenas ao caracterizar as forças que participaram do movimento.

Os civilistas reivindicava a gloria do movimento para os civis enquanto que os militares reivindicavam em prol dos militares.

Passado o 15 de novembro, as hostilidades recomeçaram, e as classes armadas voltaram aos quartéis e o poder dos militares sobrepõe ao povo ou seja (aos civilistas). E estes, temerosos talvez de uma contra revolução, apoiaram a candidatura do marechal Deodoro à presidência da República, preferindo o militar ao candidato civil.

O governo de Deodoro caracterizou-se por uma grande instabilidade política, culminando com a sua renúncia à presidência. Floriano Peixoto (vice), assume o governo e tem oportunidade de colocar em prática suas idéias sobre a necessidade de um governo forte. Mas as agitações não cessam. Findando seu governo, Floriano entrega o governo ao primeiro presidente civil.

A conjuntura internacional favorecia o desenvolvimento do militarismo, o dava um grande reforço.

Em 1910 a nação teve que escolher entre um líder militar e um civil.

A campanha eleitoral acirrou os ânimos da oposição e Rui Barbosa apresentou-se como candidato civilista combatendo em discurso a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca, em vez de eliminar as tensões, agravou. A política de salvação nacional levada a efeito por ele, o expurgo de governadores, a intervenção das forças armadas no cenário político e na administração fizeram recrudescer os antagonismos entre civis e militares.

* Uma nova história e uma nova historiografia

A principal razão de uma nova orientação dos estudos historiográficos reside nas próprias transformações que se operaram na sociedade brasileira, contribuindo para a formação de um grupo particularmente interessado em analisar a realidade por novos prismas. O País enfrentou um período de crise e de transformações. A nova geração critica o idealismo dos homens do passado e condena a sua alienação. O movimento modernista inaugurado com a Semana de arte moderna em 1922, representou de certa forma, no campo das letras e das artes, uma afirmação de brasilidade. O movimento foi a manifestação do desejo de fazer da literatura e das artes plásticas uma expressão da nacionalidade.

Ao lado das interpretações sugeridas pelos autores marxistas apareceu, nos últimos anos, uma série de monografias que forneceram dados valiosos para o estudo da história do Império e das origens da República.

O interesse que o Brasil tem despertado no estrangeiro, principalmente nos Estados Unidos, motivou o aparecimento de algumas obras sobre o assunto. Surgiu uma série de estudos sobre aspectos econômicos, sociais e ideológicos do Império e da República, possibilitando o aparecimento de uma nova versão sobre as origens da República no Brasil.

As primeiras crônicas escritas sob a impressão direta dos acontecimentos, as interpretações foram deformadas pela parcialidade dos observadores. Engajados no processo que estavam descrevendo, os cronistas raramente dispunham da perspectiva necessária para interpretação aos acontecimentos, e isso só se tornou possível com o desenrolar da história.

Faltam pesquisas que permitam caracterizar nesse período o que é classe média, ou burguesia, qual sua importância relativa, qual sua participação nos movimentos políticos, qual o comportamento das Camadas rurais, quais as diferenças que separam o senhor.

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